A recente introdução de um filtro pelo Instagram, que reduz a exibição de postagens políticas no feed do usuário, gerou um intenso debate. Enquanto alguns comemoram a capacidade de evitar conteúdos potencialmente divisivos, outros expressam preocupações sobre as implicações dessa medida para o discurso público e a disseminação de informações.
Entendendo o Novo Filtro do Instagram
Em março de 2024, a Meta, empresa proprietária do Instagram e do Threads, lançou um recurso que permite aos usuários limitar a quantidade de conteúdo político recomendado pelos algoritmos da plataforma. Especificamente, esse filtro reduz as sugestões de postagens relacionadas a governos, eleições e outros temas sociais de contas que o usuário não segue.
A empresa esclareceu que essa novidade não bloquearia completamente o acesso a esse tipo de conteúdo. Se um usuário seguir ativamente perfis ou páginas que compartilham informações políticas, ainda poderá visualizar essas publicações em seu feed.
A Fadiga do Conteúdo Político nas Redes Sociais
De acordo com o estudo Digital News Report 2023, realizado pelo Reuters Institute, é notável uma espécie de “fadiga” no consumo de conteúdo político no formato de notícias, além do aumento na desconfiança em relação aos veículos de imprensa e à curadoria de conteúdo pelos algoritmos.
Esse fenômeno sugere que a política está longe de ser um tema unânime entre os frequentadores de redes sociais, apesar da presença crescente de postagens sobre o assunto nos últimos anos.
Vozes a Favor do Filtro
Alguns usuários do Instagram aplaudem a introdução do filtro, vendo as redes sociais como espaços para descontração, consumo de conteúdos interessantes e contato com amigos. Eles têm se deparado com uma quantidade excessiva de desinformação e discurso de ódio relacionados a temas políticos, o que prejudica o ambiente online.
O analista de infraestrutura Mauricio Rocha, por exemplo, pretende ativar o filtro, pois considera que muitos grupos acabam espalhando mais desinformação do que informações válidas, prejudicando o cenário político e a própria sociedade. Ele prefere buscar informações confiáveis em sites especializados quando deseja se manter atualizado sobre questões políticas.
Preocupações sobre a Formação de Bolhas e Radicalização
Por outro lado, especialistas alertam para os riscos associados à limitação da exposição a diferentes pontos de vista. A cientista política Maria do Socorro Sousa Braga defende que os usuários precisam ter autonomia para interagir com os conteúdos que desejarem, desde que não sejam fake news.
Uriã Fancelli, mestre em Relações Internacionais, destaca que, se o usuário seguir exclusivamente pessoas com as quais já concorda, ele pode se tornar mais suscetível a radicalizações. A falta de exposição a opiniões divergentes pode limitar a capacidade de desenvolver um senso crítico.
O Papel das Redes Sociais no Debate Público
Enquanto alguns argumentam que as redes sociais não são o melhor ambiente para se “politizar”, outros defendem a importância de manter debates sobre temas relacionados ao desenvolvimento da sociedade. Fancelli discorda da Meta ao considerar pautas políticas como “sensíveis”, já que elas são fundamentais para o progresso coletivo.
A nutricionista Letícia Rosa, por exemplo, considera o debate político importante, mas faz uma ressalva quanto ao extremismo. Ela pretende ativar o filtro para evitar sugestões de conteúdos políticos de páginas que não segue, mas continua buscando informações em locais confiáveis quando deseja se atualizar sobre o assunto.
Possíveis Soluções para um Futuro mais Equilibrado
Em vez de simplesmente limitar a visibilidade de postagens pelo tema, alguns especialistas sugerem outras abordagens para garantir um futuro mais equilibrado nas plataformas digitais.
Maria do Socorro Sousa Braga sugere que, em vez de barrar a visibilidade dos conteúdos, os usuários deveriam entrar em contato com eles para entendê-los melhor. Ela recomenda seguir contas que confrontem as crenças individuais, adicionando diversidade à “bolha social”.
Uriã Fancelli aconselha tratar as redes sociais como um aperitivo e não como o prato principal, mergulhando em fontes mais confiáveis, como a imprensa tradicional, para uma refeição informativa mais completa.
A Resposta da Meta sobre o Filtro
Quando questionada sobre a decisão de lançar o filtro, a Meta optou por não se posicionar além do que já havia sido divulgado em seu blog post de fevereiro. Na postagem, a empresa afirma querer “que todos tenham boas experiências no Instagram e no Threads” e pontua que o filtro atinge somente Contas Públicas.
A gigante das redes sociais também ressalta que está “sempre trabalhando para melhorar os nossos sistemas de recomendação e dar às pessoas o controle para que possamos conectá-las com as publicações que sejam mais relevantes para elas”.
O Equilíbrio entre Liberdade de Expressão e Bem-Estar Digital
O debate sobre a limitação de conteúdo político no Instagram evidencia a complexidade em equilibrar a liberdade de expressão e o bem-estar digital dos usuários. Enquanto alguns valorizam a capacidade de evitar conteúdos divisivos, outros temem a formação de bolhas e a restrição do discurso público.
Cabe às plataformas e aos próprios usuários encontrarem soluções que promovam um ambiente online saudável, sem comprometer o acesso a informações diversas e a troca de ideias. Afinal, as redes sociais desempenham um papel crucial na disseminação de conhecimento e no debate sobre questões que impactam a sociedade como um todo.
Responsabilidade Compartilhada na Era Digital
A introdução do filtro de conteúdo político no Instagram destaca a necessidade de uma responsabilidade compartilhada na era digital. As empresas de tecnologia devem buscar soluções equilibradas que respeitem a liberdade de expressão e a diversidade de opiniões, ao mesmo tempo em que fornecem ferramentas para que os usuários possam controlar sua experiência online.
Por sua vez, os usuários têm o dever de cultivar um senso crítico, buscando fontes confiáveis e exposição a diferentes perspectivas. Somente por meio de um diálogo aberto e respeitoso poderemos construir um ambiente digital saudável, onde o debate público possa florescer sem ceder a desinformação ou o extremismo.
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